O detetive William Somerset (Morgan Freeman) está prestes a se aposentar e, com isso, sua sala (e sua posição) começam a ser ocupadas pelo detetive David Mills (Brad Pitt), recém-chegado na cidade, jovem e ávido por trabalho. Nos últimos dias, porém, Somerset está mais introspectivo do que o normal e, além de ter que ensinar como as coisas funcionam ao novato Mills, terá que lidar com um novo caso: um homem gordo que, literalmente, comeu até morrer. Contudo, ambos os policiais não imaginavam que aquela era só a primeira vítima de um novo serial killer, que seguia a ordem dos sete pecados capitais para matar (gula, cobiça, preguiça, luxúria, vaidade, inveja e ira), com demonstrações de inteligência e paciência fora dos padrões.
“Seven: Os Sete Crimes Capitais” (Seven, ou Se7en, 1995) é o segundo longa-metragem de ficção dirigido pelo cultuado David Fincher (de “A Rede Social”, 2010, e “Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”, 2011). Foi indicado em apenas uma categoria no Oscar (Melhor Edição), apesar de merecer indicações pelo excelente roteiro e pela atuação coadjuvante do sempre brilhante Kevin Spacey, além de algumas categorias técnicas, como Direção de Arte.
O personagem de Brad Pitt é o típico detetive estadunidense que tenta resolver o caso por meio de adivinhação ainda na cena do crime. Ele é o perfeito oposto do policial vivido por Morgan Freeman, que espera os acontecimentos se desenrolarem e usa o conhecimento e a experiência a seu favor, possibilitando uma visão mais ampla de cada caso.
Apesar da visível falta de empatia inicial, pouco a pouco cria-se uma intimidade entre os detetives, com grande ajuda e empenho da mulher de Mills, Tracy (Gwyneth Paltrow), cuja principal preocupação é se adaptar à nova realidade da cidade grande, com a ajuda de algum amigo que entenda quão difícil e frustrante é viver sozinha num mundo novo com uma casa que treme devido a proximidade com o metrô e com uma novidade que pode ser boa ou ruim para seu marido.
Estas características dos personagens são tão marcantes (e importantes) no roteiro quanto a forma dos assassinatos cruéis. Cada pecado capital é representado de maneira espetacular, incluindo os dois últimos (inveja e ira) que são sublimes em sua simplicidade e audácia. Não há como dar maiores detalhes dos crimes relativos à estes dois últimos pecados sem spoilers, por isso, fica a recomendação de assistir ao filme e prestar atenção na famosa frase de Mills em forma de pergunta à Somerset: “O que tem dentro da porra da caixa?”.
É quase uma característica de Fincher que seus atores entreguem cenas memoráveis na reta final de projeção. Assim como em “Garota Exemplar” (2014) e “Clube da Luta” (1999), as emoções dos 40 minutos finais garantem atuações acima da média de Pitt e Freeman. Gwyneth Paltrow, porém, não surpreende, mesmo com uma personagem importante para o desenvolvimento da trama.
Quem rouba a cena mesmo (como em quase todos os filmes em que atua) é Kevin Spacey como – SPOILER – o assassino em série que se entrega à Polícia após o quinto crime ser descoberto. O John Doe de Spacey é inteligente, perspicaz, ágil e demonstra muita calma e frieza, como aqueles que realmente conhecem a natureza humana como ninguém.
A trilha sonora de Howard Shore (ele, de novo) garante uma abertura excepcional e um final impactante diante do medo, raiva e indecisão do detetive Mills e diante da surpresa e incredulidade do detetive Somerset (sobre esse final não posso dar spoiler). Apesar disso, não espere nenhuma música marcante, apenas o bom trabalho de Shore, já comentado nas análises de “Spotlight: Segredos Revelados” (2015) e “O Silêncio dos Inocentes” (1991).