22. Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995)

download
Os detetives Mills (Brad Pitt) e Somerset (Morgan Freeman) analisam os dois primeiros assassinatos referentes aos sete pecados capitais

O detetive William Somerset (Morgan Freeman) está prestes a se aposentar e, com isso, sua sala (e sua posição) começam a ser ocupadas pelo detetive David Mills (Brad Pitt), recém-chegado na cidade, jovem e ávido por trabalho. Nos últimos dias, porém, Somerset está mais introspectivo do que o normal e, além de ter que ensinar como as coisas funcionam ao novato Mills, terá que lidar com um novo caso: um homem gordo que, literalmente, comeu até morrer. Contudo, ambos os policiais não imaginavam que aquela era só a primeira vítima de um novo serial killer, que seguia a ordem dos sete pecados capitais para matar (gula, cobiça, preguiça, luxúria, vaidade, inveja e ira), com demonstrações de inteligência e paciência fora dos padrões.

post-37080-gwyneth-paltrow-and-brad-pitt-xoo6
Tracy (Gwyneth Paltrow) e David Mills (Brad Pitt) ainda estão se adaptando à nova realidade e, apesar das diferenças, esperam poder contar com a ajuda de Somerset (Morgan Freeman)

“Seven: Os Sete Crimes Capitais” (Seven, ou Se7en, 1995) é o segundo longa-metragem de ficção dirigido pelo cultuado David Fincher (de “A Rede Social”, 2010, e “Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres”, 2011). Foi indicado em apenas uma categoria no Oscar (Melhor Edição), apesar de merecer indicações pelo excelente roteiro e pela atuação coadjuvante do sempre brilhante Kevin Spacey, além de algumas categorias técnicas, como Direção de Arte.

O personagem de Brad Pitt é o típico detetive estadunidense que tenta resolver o caso por meio de adivinhação ainda na cena do crime. Ele é o perfeito oposto do policial vivido por Morgan Freeman, que espera os acontecimentos se desenrolarem e usa o conhecimento e a experiência a seu favor, possibilitando uma visão mais ampla de cada caso.

se7en
A vaidade gerou um dos assassinatos brutais do filme, mas um dos únicos em que a imagem não é forte o bastante para ser censurada

Apesar da visível falta de empatia inicial, pouco a pouco cria-se uma intimidade entre os detetives, com grande ajuda e empenho da mulher de Mills, Tracy (Gwyneth Paltrow), cuja principal preocupação é se adaptar à nova realidade da cidade grande, com a ajuda de algum amigo que entenda quão difícil e frustrante é viver sozinha num mundo novo com uma casa que treme devido a proximidade com o metrô e com uma novidade que pode ser boa ou ruim para seu marido.

Estas características dos personagens são tão marcantes (e importantes) no roteiro quanto a forma dos assassinatos cruéis. Cada pecado capital é representado de maneira espetacular, incluindo os dois últimos (inveja e ira) que são sublimes em sua simplicidade e audácia. Não há como dar maiores detalhes dos crimes relativos à estes dois últimos pecados sem spoilers, por isso, fica a recomendação de assistir ao filme e prestar atenção na famosa frase de Mills em forma de pergunta à Somerset: “O que tem dentro da porra da caixa?”.

tumblr_m4td5ejtwo1qdj4i3o1_500
“O que tem dentro da p*rra da caixa?” – É o que pergunta o detetive Mills (Brado Pitt) antes de ficar atordoado com a resposta

É quase uma característica de Fincher que seus atores entreguem cenas memoráveis na reta final de projeção. Assim como em “Garota Exemplar” (2014) e “Clube da Luta” (1999), as emoções dos 40 minutos finais garantem atuações acima da média de Pitt e Freeman. Gwyneth Paltrow, porém, não surpreende, mesmo com uma personagem importante para o desenvolvimento da trama.

Quem rouba a cena mesmo (como em quase todos os filmes em que atua) é Kevin Spacey como – SPOILER – o assassino em série que se entrega à Polícia após o quinto crime ser descoberto. O John Doe de Spacey é inteligente, perspicaz, ágil e demonstra muita calma e frieza, como aqueles que realmente conhecem a natureza humana como ninguém.

s7en-0
“Ah, ele não sabe.” – Kevin Spacey é brilhante como John Doe, um personagem coadjuvante muito importante no filme

A trilha sonora de Howard Shore (ele, de novo) garante uma abertura excepcional e um final impactante diante do medo, raiva e indecisão do detetive Mills e diante da surpresa e incredulidade do detetive Somerset (sobre esse final não posso dar spoiler). Apesar disso, não espere nenhuma música marcante, apenas o bom trabalho de Shore, já comentado nas análises de “Spotlight: Segredos Revelados” (2015) e “O Silêncio dos Inocentes” (1991).

Nota: 6/10

169. Garota Exemplar (2014)

ben-affleck-em-cena-de-garota-exemplar-de-david-fincher-1412030717889_956x500
Ben Affleck em cena

“Garota Exemplar” (Gone Girl, 2014), de David Fincher, conta a história do casal Amy e Nick Dunne (Rosamund Pike e Ben Affleck), casados há cinco anos, apaixonados e felizes, de classe média alta, sem filhos e enfrentando todos os problemas juntos. Até que Amy desaparece misteriosamente.

Pouco a pouco, o filme baseado no livro de Gillian Flynn, que também assina o roteiro, mostra detalhes do relacionamento cada vez mais abusivo do casal e das reais intenções dos personagens, alternando entre o ponto de vista de cada um, criando uma narrativa incrível, sobretudo, sobre as mazelas do casamento.

Nick é professor de redação literária e aspirante a escritor que trai a esposa com uma de suas alunas adolescentes. Amy, por sua vez, é uma mulher rica e mimada, que serviu (e ainda serve) como fonte de inspiração para a série de livros “Amy Exemplar” (daí o título em português), escrita por seus pais e que tem mais elementos de ficção do que relatos precisos da vida dela.

A direção de David Fincher é semelhante a outros trabalhos dele, como “Seven: Os Sete Crimes Capitais” (1995) e “Clube da Luta” (1999), em que o filme toma rumo após a revelação do plot twist (ou reviravolta), firmando os passos nos últimos trinta minutos de projeção e fazendo com que o espectador pense: “Puta merda, tudo aquilo aconteceu e eles ainda fizeram isso no final?”. PS: Esse foi meu jeito de não dar spoiler do final do filme.

602x0_1404749716O roteiro ainda ressalta a atuação da mídia, fundamental para condenar ou absolver um personagem. Amy e Nick utilizam este recurso para passar imagens totalmente incompatíveis com a realidade e isso acaba funcionando melhor para ela. Outros personagens também são vítimas da atuação da imprensa, como o interpretado por Neil Patrick Harris, que, em certo momento, passa a ser o “homem rico revoltado e carente” da história. Programas sensacionalistas insinuam traição, falta de caráter, incesto, assassinato, vingança, estupro, retaliação e sequestro (só para se ter uma ideia). Tudo muito bem articulado e pensado para alterar a opinião pública e desviar o foco investigativo da Polícia.

A atuação de Ben Affleck fica na média, assim como as atuações de todos os outros coadjuvantes. O destaque é mesmo da britânica Rosamund Pike, que conseguiu sua primeira indicação ao Oscar (merecidamente) e só não ganhou porque Julianne Moore estava esperando a estatueta há mais tempo. Rosamund dá vida a uma personagem forte, segura de si, inteligente, perspicaz, vingativa e frustrada, que toma uma decisão ousada para escapar da vida infeliz que leva e que recorre a diversos artifícios – nem sempre seguros – para chegar onde quer.

A trilha sonora é de Trent Reznor e Atticus Ross, ambos oscarizados pela trilha de “A Rede Social” (2012), também de Fincher. Em “Garota Exemplar”, não há nada de excepcional na trilha, mas ela consegue cumprir o papel de manter o público atento aos momentos decisivos. Mesmo assim, a dupla conseguiu uma indicação ao Globo de Ouro pelo filme, mas perderam para Jóhann Jóhannsson por “A Teoria de Tudo”. Jóhannsson merecia mesmo esse Globo de Ouro.

Nota: 7/10