76. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)

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Um filme francês cultuado no mundo todo, com um roteiro detalhado, mas de história simples, uma trilha sonora linda e uma fotografia exuberante. Este é “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain, 2001), dirigido por Jean-Pierre Jeunet, indicado a cinco Oscars, incluindo Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original e o filme francês mais visto em todo o planeta durante dez anos (perdeu o posto só em 2011, para “Intocáveis”).

A película conta a história da personagem-título, a partir do ponto de vista de um narrador externo. Ainda criança, Amélie (nessa fase interpretada pela brasileira Flora Guiet) foi diagnosticada erroneamente com problemas cardíacos pelo pai médico e passou a ter aulas em casa com a mãe professora. Assim, perdeu o convívio social e criou uma personalidade única e solitária, desfrutando de pequenos prazeres da vida e apreciando a simplicidade de observar pessoas em lugares públicos. Com seis anos, perdeu a mãe tragicamente, e a convivência com o pai, um homem ausente e amargurado, preso em antigas emoções, não foi das melhores.

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Matthieu Kassovitz é Nino, o interesse amoroso de Amélie e autor do álbum de fotografias mais legal de todos os tempos

Aos 20 e poucos anos, Amélie (Audrey Tautou) foi morar sozinha em Paris e começou a trabalhar numa cafeteria/tabacaria. Com relacionamentos fugazes e uma aptidão nata para ajudar as pessoas, a jovem muda seu destino quando parte em busca do dono de uma relíquia: uma caixinha de objetos antigos que estava escondida em seu apartamento. Ao se decidir pelo anonimato, Amélie pode observar a maravilhosa reação do senhor quando reencontra lembranças do passado e, assim, desencadeia em si mesma uma vontade incontrolável: fazer o bem aos que estão ao seu redor.

A presença do narrador no roteiro facilita as coisas para o espectador. Ele apresenta cada personagem com riqueza de informações e curiosidades sobre a personalidade de cada um. Mesmo assim, não estraga futuras surpresas. Logo de cara, conhecemos alguns personagens maravilhosamente bem construídos: os pais de Amélie, tão iguais em suas diferenças; o homem triste que não vê a filha há muitos anos e que gosta dos miúdos do frango assado de toda terça-feira; a senhora que coleciona cartas do falecido marido mesmo que ele a tenha traído na guerra; o jovem que coleciona retratos tirados em máquinas automáticas e que são descartados, sem motivo aparente, pelas pessoas; a moça hipocondríaca que vende cigarros e jogos de azar enquanto usa a bombinha de asma; o amante ciumento que controla a vida alheia e gosta de estourar plástico bolha.

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Um dos prazeres de Amélie é quebrar a casquinha do crème brûlée com essa colher

Todos os coadjuvantes tem ótimos momentos individuais e conjuntos. Isso se deve, de fato, mais ao roteiro do que à habilidade de cada ator em tela, mas não há razão para desmerecê-los: todos constroem bem seus personagens e cumprem o que prometem. Mesmo assim, alguns se sobressaem, com destaques para: Audrey Tautou (indicada ao Bafta pelo papel), cuja personalidade e aparência se confundem com a própria Amélie; Yolande Moreau, cuja personagem irritante se torna mais humana depois de uma das bondades de Amélie; Maurice Bénichou, que dá o tom certo de melancolia e tristeza ao dono da caixinha de lembranças; Serge Merlin, como o homem frágil e amargurado que, mesmo com idade avançada, ainda aprende as coisas da vida; e Jamel Debbouze, brilhante como o homem lerdo (e talvez com algum problema mental) que aguenta o abuso de seu patrão e encontra salvação na arte.

A trilha sonora é de Yann Tiersen, conhecido por vários filmes e curtas franceses, além do premiado “Adeus, Lenin!” (2003). As músicas compostas para “Amélie” são simplesmente sensacionais. As composições entram nos momentos certos na projeção e são estonteantes nas cenas iniciais e nas cenas finais, tanto que o compositor foi indicado ao César (conhecido como “Oscar francês”) de Melhor Trilha Sonora. Outro aspecto que não costumo analisar, mas que nesse filme merece todos os comentários, é a fotografia linda de Bruno Delbonnel (conhecido também por “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, de 2009, e “Grandes Olhos”, de 2014) que, em tons verdes e vermelhos, destaca cada aspecto do longa. As cenas são artísticas e poéticas e são iluminadas de maneira a ressaltar, inclusive, a quebra da quarta parede (quando o ator ou atriz olha diretamente para a câmera e fala com o espectador) que acontece algumas vezes.

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No final, “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” é uma crônica belíssima sobre a vida francesa, sobre o amor, sobre a solidão, sobre a amizade e, principalmente, sobre a bondade. Além disso, quem não gosta de boas histórias? “Amélie” está recheado delas, algumas com mais profundidade, outras menos, mas todas emocionantes. Vale a pena.

Nota: 9/10

 

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