150. V de Vingança (2005)

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No cartaz: “Força através da união. União através da fé.”

Baseado nos quadrinhos de Alan Moore e David Lloyd, da DC Comics, “V de Vingança” (V for Vendetta, 2005) conta a história de V (Hugo Weaving), um homem que usa a máscara de Guy Fawkes (um revolucionário que tentou explodir o Parlamento inglês no início do século 17) para disseminar anonimamente suas ideias, em um futuro distópico onde a Inglaterra é comandada pelo ditador Adam Sutler (John Hurt). Com a ajuda de Evey (Natalie Portman), uma simples assistente de televisão, o “terrorista” (como é chamado por seus opositores) planeja e executa cada ato da rebelião, que, se tudo der certo, culminará em um ano, em cinco de novembro.

Dirigido por James McTeigue, com um roteiro brilhante das irmãs Lilly e Lana Wachowski, as mesmas de “Matrix” (1999), o filme apresenta a história de V, que é, ao mesmo tempo, um assassino vingativo e um revolucionário que acredita nas pessoas e no poder que emana quando o povo se une contra uma tirania. O roteiro utiliza-se de seus variados personagens para mostrar ao espectador as dúbias nuances do ser humano, que se apresentam, principalmente, quando este é privado de suas liberdades físicas, emocionais ou de expressão.

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Natalie Portman é Evey

Os personagens demonstram as emoções humanas em caracterizações complexas e profundas, que refletem um tipo de passividade questionadora quanto à ditadura feroz imposta por Sutler. O texto das irmãs Wachoswki nos apresenta, genialmente, uma tirania que tem seu povo nas mãos: controla a mídia e a internet, proíbe e destrói todo tipo de cultura que não lhe favorece (incluindo filmes, músicas e livros), usa a religião e a fé como uma forma de banir (ou omitir) a homossexualidade, exclui e despreza os negros, os imigrantes e outras minorias, usa um bordão marcante (“A Inglaterra triunfará!”) e censura com violência qualquer tipo de liberdade.

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John Hurt interpreta o ditador Adam Sutler

Sempre atrás de uma máscara, Hugo Weaving atua com seus gestos e com sua voz, sempre controlada apesar do caos ao redor. Natalie Portman, à época com 24 anos, também trabalha com competência, usando seu próprio corpo para demonstrar o amor e a dúvida que Evey sente pelo trabalho realizado por V. Stephen Rea, que interpreta o investigador Finch, e Stephen Fry, que interpreta o humorista Deitrich, dão vida à personagens fortes e decididos, ao mesmo tempo que lutam, cada um a seu modo, com as dúvidas crescentes em suas mentes e com o controle voraz de Sutler.

Todas estas atuações são elevadas pelo trabalho excelente de John Hurt, na pele do ditador Adam Sutler. Em closes que focam sua pupila dilatada, o ator recita o texto com maestria, controlando a entonação da voz e os movimentos do rosto, tornando o tirano ainda mais medonho. A trilha sonora original é de Dario Marianelli – também responsável por “Kubo e As Cordas Mágicas” (2016), por exemplo -, que compôs temas misteriosos, heroicos e dramáticos para a projeção. Além disso, há o uso de músicas de compositores e intérpretes famosos, como Tom Jobim, Astrud e João Gilberto, Lou Reed, The Rolling Stones e Tchaikovsky.

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“Remember, remember, the fifth of November”

“V de Vingança” é um filme que deve ser apreciado por seu roteiro brilhante, cheio de mensagens interessantes – como a inteligente utilização do humor em tempos de repressão – e também pelas atuações marcantes de seu elenco. Além disso, o longa merece ser estudado como uma espécie de símbolo da atual geração, que aproveitou o tom  de revolta e descontentamento que a máscara de Guy Fawkes representa, para protestar por melhorias no Brasil, no Egito, nos Estados Unidos, na própria Inglaterra e em várias outras partes do mundo desde o lançamento da projeção.

Nota: 9/10

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