Oscar 2018: Trama Fantasma (2017)

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Daniel Day-Lewis é o estilista Reynolds Woodcock

Daniel Day-Lewis é o único profissional a ganhar a estatueta do Oscar da categoria de Melhor Ator por três vezes, pelos filmes “Meu Pé Esquerdo” (1989), “Sangue Negro” (2007) e “Lincoln” (2012). Inegavelmente, portanto, ele é um ótimo ator. Mas resolveu se aposentar. Como último trabalho, ele escolheu retomar a parceria com Paul Thomas Anderson, o diretor cujo filme lhe rendeu a segunda estatueta, em 2008. Contando a história de um famoso estilista londrino na década de 1950, “Trama Fantasma” (Phantom Thread, 2017) foi indicado em seis categorias na premiação da Academia, incluindo Melhor Filme, e garantiu a sexta nomeação de Day-Lewis ao prêmio.

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Day-Lewis e Krieps em cena

Com roteiro do próprio diretor Anderson, o filme é um apanhado da vida de Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), um vaidoso e metódico estilista, que se mantém solteiro por opção, como forma de melhor gerenciar seu negócio. Auxiliado pela irmã, Cyril (Lesley Manville), ele encontra na garçonete Alma (Vicky Krieps) uma inspiração para novas peças, mas o jeito simples e desajeitado da moça pode lhe causar problemas. O texto apresenta bem estes três personagens principais, principalmente Alma, que é a real protagonista da produção e cujas ações são reações dos atos do amado costureiro. De maneira elegante, Anderson apresenta relações intimistas com a moda e com a beleza, ao mesmo tempo que nos imerge num relacionamento abusivo e problemático, com riqueza de detalhes e mulheres com baixa auto-estima.

Em seu prometido último trabalho filmográfico, Daniel Day-Lewis compõe um homem cujos métodos de trabalho são irritantemente planejados e cuja personalidade é tacanha, convencida e arrogante. Quando Woodcock é acometido por uma doença passageira, porém, ele fica dócil e meigo, provando que, afinal, há uma casca protetora que o impede de maiores atos carinhosos durante o dia-a-dia.

Lesley Manville, agraciada com a primeira indicação ao Oscar da carreira, interpreta uma devota irmã, que gerencia o trabalho de Woodcock com o mesmo apreço que sente em auxiliar na vida pessoal do irmão, mesmo sem influenciá-lo em suas decisões pessoais e amorosas. Manville tem no olhar de julgamento e nas falas certeiras seu trunfo na corrida, mas o roteiro não disponibiliza desenvolvimento suficiente para que o espectador conheça a fundo sua interessante personagem.

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Lesley Manville interpreta Cyril Woodcock

Vicky Krieps é a melhor profissional em tela, transparecendo com louvor a simplicidade e a inexperiência de Alma, cujos sentimentos por Reynolds crescem à medida em que ela se sente mais amada e querida. Há, em Alma, um sentimento profundo de desejo de uma vida melhor com quem ama, mas há também uma insegurança latente por não pertencer ao estiloso mundo dos magnatas londrinos, onde uma torrada mordida na hora errada e um aspargo preparado de maneira inapropriada podem causar confusões gigantescas e alterações impensadas na rotina. Krieps foi nomeada apenas em algumas premiações menores mas, sem dúvida, merecia mais destaque.

A trilha sonora original é de Jonny Greenwood, guitarrista da banda Radiohead, que já havia trabalhado com o diretor Anderson em “Sangue Negro” (2007) e “O Mestre” (2012), por exemplo. As composições de Greeenwood remetem à música clássica e até à bossa nova brasileira e ajudam a exaltar a característica elegante da projeção. Presente em toda o filme – assim como acontece em “A Forma da Água” (2017), por exemplo -, a trilha ajuda a entender as frágeis personalidades dos retratados, bem como ressaltar o tom misterioso e desconfortante que o filme adota em determinados momentos.

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Krieps, Day-Lewis e Manville em cena

No geral, “Trama Fantasma” é um bom filme, que trata de temas como o relacionamento abusivo de maneira contundente, mas sem julgar as escolhas de seus personagens ou impor lições de moral ao espectador. É uma produção elegante – principalmente no que diz respeito ao Figurino e à Direção de Arte – que escancara o preconceito e a mesquinhez da alta burguesia inglesa da década de 1950, com uma belíssima trilha sonora e atuações marcantes de Day-Lewis, Manvillle e, principalmente, Krieps.

Nota: 6/10

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