Oscar 2018: Com Amor, Van Gogh (2017)

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O processo de animação do filme contou com mais de 100 pintores, que trabalharam em mais de 800 telas reais pintadas no estilo de Van Gogh

Em 1890, aos 37 anos, o pintor norueguês Vincent Van Gogh deu um tiro em si mesmo e, ferido, retornou ao seu quarto de hotel na França, morrendo dois dias depois. Hoje considerado um dos artistas mais influentes de todos os tempos, Van Gogh finalmente teve sua biografia – ou parte dela, incluindo o trágico fim – transformada em filme. A animação “Com Amor, Van Gogh” (Loving Vincent, 2017) foi feita com mais de 850 quadros pintados a óleo por mais de 100 artistas, gerando assim, a primeira animação totalmente pintada em tela da história.

O processo inovador de elaboração do filme, dirigido por Dorota Kobiela e Hugh Welchman (com roteiro de ambos e Jecek Dehnel), foi realizado da seguinte maneira: filmagens reais foram feitas com atores profissionais e cada movimento capturado foi transformado em quadros à óleo produzidos no estilo pós-impressionista de Van Gogh, para ser animado digitalmente. Todo este processo durou mais de dois anos e inclui ainda passagens de flashback produzidas em tons de preto e branco. A história retrata os momentos finais da vida do pintor (Robert Gulaczyk) em forma de uma investigação não oficial de Armand Roulin (Douglas Booth), que está à procura de um parente próximo de Van Gogh para entregar uma carta escrita pouco tempo antes da morte deste.

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O filme conta a história de Armand (Booth), que precisa entregar uma carta de Vincent à algum familiar vivo do pintor

A acertada decisão dos autores de conduzir uma investigação sobre a vida do homenageado, bem como as circunstâncias estranhas de sua morte precoce, resultaram numa produção que fornece diversos pontos de vista sobre a fase final da vida de Vincent. Interessantes personagens, como o carteiro Joseph Roulin (Chris O’Dowd), o médico Gachet (Jerome Flynn) e sua filha Marguerite (Saoirse Ronan), a governanta Louise (Helen McCrory), a jovem dona de pousada Adeline (Eleanor Tomlinson), o barqueiro (Aidan Turner) e o fornecedor de tintas Tanguy (John Sessions), fazem uma retrospectiva dos motivos que supostamente levaram Van Gogh ao suicídio.

Considerando que as pinturas foram baseadas em gravações reais, este é o primeiro filme de animação em que é possível analisar a atuação dos profissionais envolvidos, já que as emoções transpareceram nas telas animadas. Deste modo, é importante destacar o trabalho de Douglas Booth como o protagonista que prefere beber a cumprir sua tarefa, mas que depois entende que aquela é uma missão com a qual pode aprender consideráveis lições de vida. O’Dowd e Flynn, bem como as jovens Saoirse Ronan e Eleanor Tomlinson, também apresentam trabalhos eficientes.

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O visual da produção é deslumbrante

Composta pelo exemplar Clint Mansell, a trilha sonora original remete ao final do século 19 sem perder a originalidade e mantendo os aspectos extremamente dramáticos do filme, ao mesmo tempo em que permite que o espectador aprecie a beleza da produção, sem pressa. Com mais campanha, Mansell, conhecido por composições de filmes do diretor Darren Aronofsky, como “Réquiem Para Um Sonho” (2000) e “Fonte da Vida” (2006), poderia facilmente estar entre os indicados na categoria de Melhor Trilha Sonora Original.

Além de um roteiro competente, dublagens/atuações convincentes e uma trilha sonora belíssima, “Com Amor, Van Gogh” é uma obra de arte. Literalmente. Todo o estilo da animação faz com que o espectador aprecie a beleza das paisagens apresentadas enquanto pode observar melancolicamente um homem depressivo e solitário em seu final de vida e refletir sobre as conturbadas relações pessoais de um grande artista, cujo reconhecimento, infelizmente, veio somente depois de sua morte. É um filme de visual único, deslumbrante e espetacular.

Nota: 7/10

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